A vida, segundo Kierkegaard

'A vida só pode ser compreendida se olharmos para trás, mas deve ser vivida para frente...'
Diários, Soren Kierkegaard.

domingo, 2 de agosto de 2009

O velho da porteira



Ela não sabia como começar, mas sabia que ele era simplesmente o personagem que ela mais admirava. Era seu avô, um velho contador de histórias. Os anos de infância que passara correndo pelos arredores do interior onde ele morava nunca serão esquecidos. A imaginação da garota corria junto à ela, em meio às árvores, aos animais e às lendas que o avô lhe contava. Gostava de ficar sozinha ali, inventado histórias e descobrindo personagens. Amigos jamais a esqueceriam: seus amigos imaginários, os mais divertidos e aventureiros possíveis. Eles sempre a acompanhavam quando ela ia explorar, pois sua irmã não queria ir junto. Voltava para casa dizendo ter visto alguma das criaturas das lendas de seu avô.
Pedia que ele lhe contasse outras histórias, e o admirava por ele ser tão esperto.

— Meu avô é o rei destas terras. As pessoas o adoram, e ele sempre manda em todas elas. E minha avó é a rainha, que cuida de todos como se fossem seus filhos.


Quando desistiu da idéia de que seu avô era um rei, passou a imaginar que ele era um ator de televisão:


— Ele até parece o Silvio Santos! – pensava.


Com o tempo, foi percebendo que aquele velho não era assim tão importante, mas não precisava ser. Bastava ser seu avô, o velho contador de histórias que sempre ia até a porteira acenar com a mão toda vez que ela ia embora. Essa era a imagem que ficara guardada em sua lembrança, não importa quanto anos se passassem.


Um velho sorridente que acenava junto à porteira.

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Estudante de Direito, Escritora nos momentos de melancolia, melhor amiga nos momentos de felicidade e flamenguista sofredora.