A vida, segundo Kierkegaard

'A vida só pode ser compreendida se olharmos para trás, mas deve ser vivida para frente...'
Diários, Soren Kierkegaard.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

O preço da felicidade

Às vezes, os fantasmas do passado
Invadem meu quarto
Uma sombra negra,
De lembranças que não foram esquecidas.

Eu me agarro em uma certeza
Aquela que sempre tive
E que me fez chegar até aqui

Eu acreditei em você, na sua força
Você pode ser alguém melhor
Você pode ser feliz
Você pode ser a metade melhor de mim

Venha, eu e mostro a magia
Somente eu sei o preço da felicidade

Ninguém me ensinou a desistir
Ninguém me ensinou a desistir de você
E você me mostrou que estava certa

Então venha, que eu te mostro a magia
Somente eu sei o preço da felicidade

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Deixe seu coração falar por você


Não, eu não pedi que você se aproximasse,
Mas você estava ali, bem à minha frente,
e eu olhei para você e vi que estava perdido.
Flutuava entre mil caminhos e aventuras,
dizendo: “Não vou mais me apaixonar”.
Fechou-se para mim, porém, seu coração implorava:
“Por favor, me ame”

E eu calei sua boca, e escutei seu coração,
Calei sua boca, e escutei apenas o seu coração, que gritava
Então, Deixe seu coração falar por você

Numa noite fria em que nada dera certo, eu pedi que ficasse,
No entanto, você se foi.
E você não sabia o porquê, mas chorava
Era seu coração, pedindo para não ir embora.

Então, Escute seu coração
Ele diz: “Por favor, me ame”
Você queria um esconderijo, eu queria um abrigo,
E quando conseguimos, insatisfeitos, magoar-nos,
Você se foi, mas o seu coração voltou para mim.

Então, Deixe seu coração falar por você
E você disse: “Por favor, me ame”

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Culpados


O que acontece, quando tudo que você acredita,
Escapa por entre seus dedos,
Como se fosse líquido, como se não lhe pertencesse.

Não culpe ninguém.
Não são eles que estão com medo, é você.
Você é o único que está perdido, é você quem sofre,
Por causa da vergonha, da sua vergonha.

Você só queria que as coisas dessem certo
E não olhou para as marcas no chão
O chão coberto de poeira, a sua poeira
A poeira do seu passado

E você tem vergonha daquilo que é
Porque alguém disse que está errado
Mas o que há de errado?
Apenas o seu medo, eles te ouvem tremer
E não fazem nada, pois não podem sentir a dor por você

As cortinas estão abertas para a solidão
Os raios estão invadindo o tapete da sala
Eles podem ser sua única companhia
Junto com a dor de seus sonhos

Os sonhos que você não alcançou
E eles vão te culpar pelas perdas
E não irão te abraçar apertado
E você vai continuar com medo.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009


Desculpe-me se não sei por quanto tempo
Ou se é por bem ou se é por mal
Mas esta noite sonhei com seu sorriso
Desnorteando minha visão, longe de condutas
Alegres ou tristes

Senti sua pele me tocando de leve, um arrepio nervoso
O que há comigo? O que pode estar acontecendo?
Desde que meus sentimentos ganharam liberdade,
Não param um segundo de clamar suas carícias

E a todo o momento, minhas mãos te chamam
Por debaixo das luvas, por entre as carnes
Um desejo, um incontrolável desejo impuro
Como aventureiros, eles tecem o prazer

De repente, os momentos são poucos
A vida é curta para tudo que ainda se pode fazer
E se tem pressa, pois somos jovens
Não podemos esperar o anoitecer

O sol se pondo, a música leve, eu e você, devagar...
Vamos sumindo aos poucos, quando não houver mais horizonte
Nossas pegadas estão ali, desenhadas na areia, sendo levadas pelo vento
Mas eu posso ouvir a canção de amor, executada nos acordes da alma

E as lembranças vêm depois se vão, com algumas farpas
Os corpos molhados em meio à relva, com a luz fosforescente a iluminar
Nem todo amor é bucólico, nem todas as pessoas são românticas
Mas qualquer um sabe amar

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

O que te faz Brasileiro

Você sabe o que é correr, com toda garra,

Para alcançar a faixa da vitória,

Para ouvir os aplausos da torcida,

Mas não é isso que te faz Brasileiro.

Você sabe o que é nadar, braçada após braçada,

Para diminuir os milésimos de segundo, e chegar à frente,

Mas não é isso que te faz Brasileiro.

Você sabe o que é lutar, com os mais fortes rivais,

Para mostrar o tamanho de sua força,

Tentando superar seus limites,

Mas não é isso... Que te faz Brasileiro.

O que te faz Brasileiro não são os troféus, ou medalhas,

Ser Brasileiro não é subir ao pódio... É descer dele.

É errar um passe, é perder um gol,

É derrubar a faixa, é tropeçar, é cair... É chorar.

Mas acima de tudo, ser Brasileiro,

É levantar, e seguir em frente,

É assumir seus erros, e voltar atrás,

É competir, quando ninguém mais aposta em você.

Por que você é Brasileiro, e não desiste nunca!

É competir, quando ninguém mais aposta em você.

Por que você é Brasileiro, e não desiste nunca!

domingo, 2 de agosto de 2009

O velho da porteira



Ela não sabia como começar, mas sabia que ele era simplesmente o personagem que ela mais admirava. Era seu avô, um velho contador de histórias. Os anos de infância que passara correndo pelos arredores do interior onde ele morava nunca serão esquecidos. A imaginação da garota corria junto à ela, em meio às árvores, aos animais e às lendas que o avô lhe contava. Gostava de ficar sozinha ali, inventado histórias e descobrindo personagens. Amigos jamais a esqueceriam: seus amigos imaginários, os mais divertidos e aventureiros possíveis. Eles sempre a acompanhavam quando ela ia explorar, pois sua irmã não queria ir junto. Voltava para casa dizendo ter visto alguma das criaturas das lendas de seu avô.
Pedia que ele lhe contasse outras histórias, e o admirava por ele ser tão esperto.

— Meu avô é o rei destas terras. As pessoas o adoram, e ele sempre manda em todas elas. E minha avó é a rainha, que cuida de todos como se fossem seus filhos.


Quando desistiu da idéia de que seu avô era um rei, passou a imaginar que ele era um ator de televisão:


— Ele até parece o Silvio Santos! – pensava.


Com o tempo, foi percebendo que aquele velho não era assim tão importante, mas não precisava ser. Bastava ser seu avô, o velho contador de histórias que sempre ia até a porteira acenar com a mão toda vez que ela ia embora. Essa era a imagem que ficara guardada em sua lembrança, não importa quanto anos se passassem.


Um velho sorridente que acenava junto à porteira.

domingo, 7 de junho de 2009

Que dia é hoje? - Parte III






What day is it and in what month

This clock never seemed so alive
I can't keep up
And I can't back down
I've been losing so much time
Que dia é hoje e de que mês?
O relógio nunca pareceu tão vivo
Eu não posso prosseguir
E eu não posso desistir
Tenho perdido tempo demais


Deitada em sua cama, num quarto repleto de ursos e móveis em tons pastel, ela observava os pingos de chuva caindo e se arrastando no vidro da janela. Um ano, definitivamente, era muito tempo. Mas não seria tempo suficiente para que ela o esquecesse. Todos os dias ela imaginava o que ele estava fazendo. Se estava feliz, se esperava por ela e se também pensava nela àquele instante. Os dias pareciam se arrastar, como se quisessem testar o seu amor por ele.
Ela escutou quando um trovão rugiu como o rei dos céus, e tentou assustá-la, fazendo-a lembrar do último dia em que o vira.
— Você tem certeza? – ele disse, antes de entrar no ônibus.
Ele estava sério, e isso a fez assustar um pouco. Não tinha parado para pensar no peso daquela decisão, mas não iria desistir agora. Havia prometido que o esperaria e era isso que ela iria fazer.
— Eu tenho certeza.
Ela sorriu, e ele a abraçou uma última vez. Depois disso, uma chuva começou a cair de repente, e ele correu para a porta do ônibus, onde acenou para a garota. E foi embora.
A chuva o havia levado, e ela queria amaldiçoar aqueles pingos que insistiam em lhe perturbar.

Cause it's you and me and all of the people
With nothing to do
Nothing to lose
And it's you and me and all of the people
And I don't know why
I can't keep my eyes off of you
Porque é você e eu e todas as pessoas
Com nada para fazer
Nada para perder
E é você e eu e todas as pessoas
E eu não sei por quê
Não consigo tirar meus olhos de você


Ela estava ali, parada na porta do quarto dele, esperando que ele acordasse. Quando ele abriu os olhos, viu ela se aproximar devagar, seu rosto já estava bem próximo, e ele fechou os olhos esperando pelo beijo. Mas quando abriu novamente, ela já não se encontrava lá. Havia sonhando mais uma vez com os olhos negros a lhe perscrutar, a boca a lhe seduzir, seu jeito quase inocente de ser sensual.
Ele passou horas, apenas se perguntando como podia amá-la de uma forma tão intensa, mesmo com todos aqueles quilômetros que os afastavam. Já haviam se passado algumas semanas, e ele já conhecera várias pessoas com quem trabalharia, além das palestras do fórum que lhe ocupavam o dia inteiro. Ainda assim, rezava para que o fórum terminasse logo, para ele poder voltar para seu apartamento e ligar para Ela.
Olhou mais uma vez para a porta, onde ela estava até segundos atrás, e embora soubesse que era apenas um sonho, no fundo ele tinha esperanças que fosse verdade. Quando viu a fechada, poderia ficar triste, porém, lembrou-se de uma vez em que a encontrara em uma festa, antes de eles começarem a namorar. Ele havia bebido mais que o normal, mas mesmo assim, não poderia deixar de notá-la. Sabia que a conhecia de algum lugar, mas não se lembrava de onde. Como poderia esquecer um rosto tão bonito?
Aproximou-se devagar e tocou em seu ombro, o que a fez assustar e ela se virou de repente, olhando-o sem entender. Ele juntou palavras:
— Eu estava procurando por você.
Que cantada barata, de onde você tirou isso? Pensou ele.
— Por mim? – ela respondeu, sem entender menos ainda.
— Claro, passei a noite inteira te procurando.
Ela caiu nessa! Ele pensou já se empolgando.
— Terá que procurar mais um pouco, eu não sou essa pessoa.
Ela fez menção de sair, mas ele a impediu:
— Qual seu nome? – fez uma última pergunta.
Ela sorriu com apenas um canto dos lábios. Porém, não disse nada. Apenas saiu, como se deslizasse, e de repente, sumiu na multidão. Ele só percebeu que ela não estava mais ali, segundos depois quando se lembrou de onde a conhecia:
— A garota da chuva!
Olhou por todos os lados, procurando-a, mas era como se ela nunca tivesse estado ali.

All of the things that I want to say
Just aren't coming out right
I'm tripping inwards
You got my head spinning
I don't know where to go from here
Todas as coisas que quero dizer
Não estão saindo direito
Viajando em mim mesmo
Você deixou minha mente girando
Eu não sei pra onde ir daqui


Ela podia lembrar com detalhes daquela tarde. Estava em sua casa, assistindo algum programa sem tanto interesse. Escutou quando um carro estacionou em frente à sua casa e esperou que tocassem a campainha. Quando esta soou, ela levantou-se preguiçosamente do sofá e foi até a porta, ver de quem se tratava. Deu um passo para trás quando o viu ali. O que ele está fazendo aqui? Ele não tinha costume de ir até sua casa, apenas algumas vezes em que fora deixá-la após um encontro. Mas assim, sem avisar, não fazia o tipo dele.
Ela deu espaço para que ele entrasse, mas ele se limitou a ficar perto da porta, como se dissesse que não ia demorar muito.
Timidez, pensou ela.
Embora soubesse que aquela não era exatamente a característica que o definiria, mas pela situação, era a que ele se encontrava. Olhando um pouco para o chão, e um pouco para ela, ele disse:
— Vim saber se você vai para a festa de hoje.
— Vou, sim.
— E que horas quer que eu passe aqui?
— Passar aqui? – ela repetiu, como se não houvesse entendido.
— Claro, você vai comigo – ele respondeu como se fosse algo óbvio.
Ela sorriu por dentro. Sabia, aquela era a forma que ele tinha de chamá-la para sair.
— Ás onze, então.
— Certo – ele concordou, depois se despediu e saiu pela porta, ainda meio tímido. Ela o acompanhou até seu carro, e notou que um sereno manso caía sobre eles. O garoto abriu a porta do carro, e já ia entrar, quando parou e se virou para ela, que havia cruzado os braços por causa do vento trazido pelo início de chuva.
— Tem mais uma coisa que eu queria te perguntar.
Ele parou como se tentasse lembrar algo. Era agora, ele teria que ter coragem, e pedi-la em namoro. Abriu a boca para começar a dizer as palavras, mas ela o interrompeu:
— Será que não pode me perguntar isso hoje à noite? Eu estou me molhando, e hoje não é um bom dia para se pegar um resfriado.
— Claro...
Hoje à noite, ele repetiu em pensamento.

Cause it's you and me and all of the people
With nothing to do
Nothing to prove
And it's you and me and all of the people
And I don't know why
I can't keep my eyes off of you
Porque é você e eu e todas as pessoas
Com nada para fazer
Nada para provar
E é você e eu e todas as pessoas
E eu não sei por quê
Não consigo tirar meus olhos de você


— Você está linda, moça – ele lembrou-se do que havia dito a ela na noite em que fora buscá-la para irem a uma festa. Seria sua oportunidade de pedi-la em namoro e queria tornar o momento especial.
Agora não, terei a noite inteira para isso, Ele pensou.

Já na festa, ele estava apreensivo, e ela notou aquilo de certa forma. O garoto tentava disfarçar falando sobre outras coisas, mas seu estômago parecia revirar todas as vezes em que a olhava. Ela estava tão linda naquele vestido roxo, um pouco curto, deixando as pernas à mostra. Ele sentia que qualquer garoto ali queria pedi-la em namoro, e não sabia por que aquilo era tão difícil para ele. Bebeu mais um gole de uma cerveja, e sentiu o estrago que aquilo fez em seu estômago. Não sabia ao certo se era pelo nervosismo, ou a bebida que realmente não caíra bem, mas estava enjoado e sentiu vontade de vomitar.
— Você está pálido! O que está acontecendo? – ela disse.
— Não estou me sentindo bem – ele respondeu com uma cara feia, como se fosse vomitar ali mesmo.
— Então vamos para o hospital, você não pode vomitar aqui.
O hospital não era bem o local que ele tinha em mente para levá-la àquela noite, mas não estava mais agüentando os enjôos, e não tinha outra saída.

— Você vai ficar bem – disse a enfermeira, enfiando uma agulha em seu pulso e ajeitando um pacote com soro para que não derramasse de mais nem de menos.
Quando a mulher terminou e foi atender outro paciente, ele virou-se para a garota que estava ao seu lado, e disse:
— Eu não planejei isso.
Ela fez uma cara estranha, como isso fosse óbvio.
— Claro que não! Por que planejaria isso?
Ele demorou um pouco. Aquela não era a situação mais adequada, mas ele não queria mais perder tempo, então:
— Você vai ter que fazer uma decisão.
— Uma decisão? Eu odeio decisões...
Ela viu nos olhos dele a sinceridade daquelas palavras, e sentiu um medo lhe dominar. Do que ele estava falando? Será que era algum prenúncio de desculpa para terminar com ela? Mas terminar o que, se eles sequer eram namorados, só haviam saído algumas vezes. Ela já estava gostando dele, e não queria que tudo acabasse assim, sem mesmo começar. Mas seus temores foram vencidos, quando ele terminou o que tinha para dizer:
— Mas terá que fazer uma mesmo assim. Vai ter que decidir se quer ser minha namorada.

There's something about you now
I can't quite figure out
Everything she does is beautiful
Everything she does is right
Existe algo sobre você agora
Que não consigo compreender completamente
Tudo o que ela faz é bonito
Tudo o que ela faz é certo


Ela passou o dedo indicador entre os lábios, tentando lembrar quando foi o primeiro beijo.
Estava sozinha no ponto de ônibus, esperando a chuva passar para que ela pudesse ir para o colégio, quando uma figura aproximou-se e sentou ao seu lado.
— Será que dessa vez eu posso saber seu nome? – ele disse, e ela o encarou.
Era o garoto da festa, que tinha lhe passado uma cantada barata.
— Se você for sincero... – ela respondeu.
— Tudo bem. Te encontrei por acaso, não estive te procurando ou te seguindo. Ainda nem sei seu nome, mas é a segunda vez que a vejo no meio de uma chuva. Pelo menos desta vez você está protegida.
— Protegida de que? A chuva não é nenhum mal. Pelo contrário, ela lava a sua alma, te livrando dos maus pensamentos. Em mim, ela sempre traz lembranças.
— Talvez ela não seja tão ruim, desde que ela me dê algo que eu estou querendo muito.
Ele chegou ainda mais perto da garota, que agora podia sentir sua respiração.
— Por que não tenta pedir a ela?
— É o que eu vou fazer.
Em seguida, puxou a garota e a beijou. Um beijo tímido, mas que a garota jamais esquecera. Todos os dias quando passava por ali, ela podia voltar àquela manhã e sentir o sabor daquele beijo novamente.
Talvez a chuva não seja tão ruim assim, ele pensou.

You and me and all of the people
With nothing to do
Nothing to lose
And it's you and me and all of the people
And I don't know why
I can't keep my eyes off of
Você e eu e todas as pessoas
Com nada para fazer
Nada para perder
E é você e eu e todas as pessoas
E eu não sei por quê
Não consigo tirar meus olhos de você


Ele virou para o lado esquerdo da cama, e ela, para o lado direito. Eles não estavam no mesmo lugar, mas se a cena fosse cortada e unidas as duas partes em uma única, era como se eles pudessem se ver e estivesse frente à frente.
Ela podia senti-lo, e Ele podia vê-la.
Ela escutava sua voz sussurrando, e Ele sentia seu cheiro impregnado nos lençóis.
Ela sorria, e ele se excitava.

Ela o amava, e ele também.

What day is it
And in what month
This clock never seemed so alive
Que dia é
e em que mês
Este relógio nunca pareceu tão vivo!

sábado, 6 de junho de 2009

Olha o que o amor nos deu - Parte II


Comentário inicial: Esta é a continuação da história que eu comecei no poste passado. Quando tudo parecia bem, os problemas voltam a atormentar o casal. E bom, não me perguntem os nomes dos personagens, eu quero que fique assim, para que cada pessoa possa se imaginar no lugar de algum deles.


I am so high, I can hear heaven
I am so high, I can hear heaven
Whoa, but heaven, no heaven don't hear me
Estou tão alto, que posso ouvir o céu
Estou tão alto, que posso ouvir o céu
Pára, mas o céu... não, o céu não pode me ouvir

Alguns dias haviam se passado desde aquele dia em que ela estivera em sua casa. E mesmo depois de tudo que ocorreu entre os dois, havia um vazio que eles não conseguiam completar. Agora, ele tinha vergonha de procurá-la. Não sabia o que dizer, e os dias foram se passando nesta dúvida. Uma semana, depois duas, e ele ainda não conseguia juntar palavras para construir uma frase sequer. A única coisa que sabia era que sentia saudades dela, de seu corpo, e de consolá-la quando precisasse. Mas o tempo vinha passando cada vez mais rápido, principalmente agora, com os preparativos para a viagem que ele faria com a faculdade. Iriam passar alguns dias em um fórum de discussões com alguns advogados e juízes mais experientes. Seria muito construtivo para ele, que estava no meio do curso de direito. Além de informações, ele teria a chance de estagiar em uma das empresas que estava patrocinando o fórum, mas para isso teria que se mudar para outra cidade, pois onde ele morava não havia nenhuma filial. Havia passado dias ocupando a cabeça pensando em como faria para conseguir a vaga, mas a imagem da garota sempre vinha lhe perturbar.
Mesmo que ele fosse procurá-la e dizer o quanto sentia sua falta, como fariam para resolver o problema da distância que se sucederia? De certa forma, ele havia se afastado dela, não apenas por medo, mas por que viu que poderia acontecer algo que ele queria que não acontecesse apenas por acaso. E ao mesmo tempo, ele não poderia continuar namorando a garota à distancia, pois sabia que acabaria ficando louco, querendo estar ao seu lado o tempo todo, sem poder. Mas o que ele sentia não havia mudado, nem por um momento. E além de tudo, ele lembrava com exatidão de quantas pessoas já havia feito sofrer e, definitivamente, não queria isso para eles dois.
Não posso fazê-la sofrer, Pensou.

And they say
That a hero could save us
I'm not gonna stand here and wait
I'll hold onto the wings of the eagles
Watch as we all fly away
E dizem
Que um herói viria nos salvar
Não vou ficar aqui parado esperando
Me agarrarei nas asas de uma águia
Observe enquanto voaremos para longe

Ela olhou mais uma vez seu reflexo no espelho, tentando encontrar algum defeito, alguma falha. Depois, ela analisou seu corpo, observando atentamente o que poderia estar errado. Mas será que o problema realmente estava nela? Sempre se culpava todas as vezes em que as coisas não pareciam bem. Daquela vez, elas não pareciam ter solução. Será que havia se precipitado em ir tão longe com Ele? Mas ela tinha certeza, pois sabia que o amava, e ele a correspondia. Mas então, o que poderia ter dado errado para que ele não a procurasse mais? Será que ela tinha feito algo que ele não gostou, ou será que não tinha sido boa o suficiente.
Todas essas perguntas martelavam em sua cabeça, perturbando seu espírito. Porém, sempre que ia dormir a imagem dos dois vinha em seus pensamentos. E aquelas lembranças não a perturbavam, pelo contrário, confortavam. Sentia uma ânsia poderosa lhe subir pelo corpo toda vez que lembrava daqueles momentos tão íntimos. E eram aqueles instantes de solidão, apenas pensando, que a faziam se sentir tão perto dele.
Mas ela sabia, havia um grande vazio entre os dois.

Someone told me
Love would all save us
But, how can that be
Look what love gave us
Alguém me disse
Que o amor nos salvaria
Mas, como pode ser?
Olha o que o amor nos deu?

— Você está escutando? – perguntou um amigo dele, Zac, tentando lhe chamar atenção.
O garoto balançou a cabeça, saindo de seus devaneios. Seu amigo estava tentando lhe explicar algo sobre direito tributário, mas sua mente estava em outro lugar. Estava nela. Em como ela reagiria àquela solidão. Embora ela sempre tentasse transparecer uma figura forte, ele sabia o quanto ela era sensível por dentro. Mas era para o bem dela.
Para o bem dela, repetiu em pensamento.
— Cara, você tem que falar com ela – disse Zac, como se estivesse lendo os pensamentos do garoto.
— Não posso – ele disse – vai ser melhor assim, sem despedidas.
— Então não se despeça. Pode pedir para que ela espere por você.
— Eu estaria sendo egoísta se pedisse isso. Ela tem o direito de ser feliz.
— Ela vai sofrer muito mais se você não disser nada a ela. Além do mais, faça isso por você.
Ele olhou para seu amigo, como se aquelas palavras estivessem fazendo sentido dentro de sua cabeça.
Depois, sorriu.

A world full of killing
And blood spilling
That world never came
Um mundo cheio de assassinatos
E sangue jorrando
Esse mundo nunca existiu

As páginas do diário da garota foram molhadas pela primeira vez. Uma fina lágrima escorreu pelo canto do nariz, até chegar ali, onde cravaram uma tumba assustadora. Pelo menos a garota, as lágrimas conseguiram assustar. Ela estava relendo algumas páginas antigas, quando viu escrito em umas delas, uma conversa que eles dois haviam tido:
— Afinal, o que você quer? – ela perguntou, após um momento de silêncio, e ele a olhou sem entender.
— O que eu quero? – ele repetiu confuso.
— Exato. Pode responder?
— Em relação à que? Eu quero apenas ser feliz, moça.
— Bom, esta resposta também não me satisfaz – ela disse, descontente.
— O que eu quero, é muito subjetivo.
— É assim mesmo que eu quero que fique. Faço esta pergunta às pessoas, mas elas nunca respondem o que realmente pensam.
— Mas é assim que acontece.
Ele sorriu, confortando-a.
— Eu entendo. Não posso simplesmente esperar que mostre quem são.
— Mostre-se.
— Mas eu já sou descarada por natureza! Não tenho medo de ser quem sou!
— E nem deve ter. Mas relaxe, deixe acontecer e é só ser feliz... Não existe nada tão complicado, apenas deixe ser amor.
Naquele dia, ela se sentiu feliz por ter alguém como ele ao seu lado. Ele a completava de forma única.
E aquela lágrima, mostrava o quanto ela estava em pedaços agora.

And they say
That a hero could save us
I'm not gonna stand here and wait
I'll hold on to the wings of the eagles
Watch as we all fly away
E dizem
Que um herói viria nos salvar
Não vou ficar aqui parado esperando
Me agarrarei nas asas de uma águia
Observe enquanto voaremos para longe

Todos os dias quando ele acordava, via as horas passando, mas não passava a vontade de tê-la em seus braços. Por mais que ocupasse a cabeça, por mais que se esbaldasse com amigos e bebesse vários copos de alguma bebida sem gosto, no fim ele sequer lembrava a hora em que tinha ido dormir pensando em seu sorriso.
Agora, ele estava ali, segurando o telefone e decidindo o que diria quando ela atendesse. Mas antes que pensasse em alguma coisa, uma voz chamou do outro lado da linha:
— Alô?
— Oi. Sou eu… - fez-se uma pausa, como se ele esperasse que ela fosse desligar na sua cara, mas como isso não aconteceu, ele continuou – Moça, que saudade escrota...
— De que? – ela tentava não parece interessada.
— De você.
Silêncio na linha.
— Desculpa, eu posso está sendo injusta, o que não parece ser o caso, mas é meio difícil de acreditar.
Ele engoliu em seco, pois não gostava que duvidassem dele, mas no fundo sabia que ela tinha razão.
— Está certo – ele concordou, prometendo para si que não falaria mais isso.
— Eu teria vários motivos para te dar, mas prefiro não falar disso, não seria nada legal.
— Você que sabe. Realmente hoje eu não estou para discussão.
— Nem eu... Melhor desligar agora...
Ele tentou dizer que ela não desligasse, mas as palavras não saíram. Ela esperou que ele insistisse, mas ouviu apenas o silêncio, e então, desligou.

Now that the world isn't ending
It's love that I'm sending to you
It isn't the love of a hero
And that's why I fear it won't do
Agora que o mundo não está acabando
É amor que estou te enviando
Este não é o amor de um herói
E é por isso que temo que não chegará

Ela viu quando Brad, um garoto que ela acabara de conhecer, aproximou-se de onde ela estava sentada, numa das bancas de um barzinho que ela tinha ido com suas amigas. Não queria fazer o tipo que sofre por amor, e aceitou na hora quando elas a chamaram. Mas agora, estava começando a se arrepender. Brad parecia muito interessado nela, e fazia muitas perguntas a seu respeito. Ela respondia a todas gentilmente, pois não queria ser mal-educada. Foi então que ele perguntou sobre as músicas que ela ouvia, e quando ela foi dizendo, ele foi completando-a, e era visível que tinham gosto parecido. O mais estranho é que esta mesma cena havia acontecido anos atrás, com outra pessoa, e havia sido um momento mágico. Agora, era totalmente esquisito ver Brad se identificar a ela. Em sua concepção, chegava a ser nojento.
Ela tinha se acostumado à presença dele, e já não conseguia se relacionar com outras pessoas.
Foi então que surgiu a pergunta que ela sabia que viria:
— Você tem namorado?
Ela pensou um pouco.
— Na verdade... Eu tenho.
— E por que ele não está aqui com você? Que tipo de cara deixa uma garota linda como você sozinha?
— Vai ter que perguntar isso pra ele.
— Ainda não posso acreditar – ele era insistente.
— Quer que eu ligue pra ele? – perguntou, tentando parecer convincente, e realmente achava que ele fosse dizer que não precisava.
— Quero.
Ela engoliu em seco. E agora? Teria que ligar para alguém, e Ele foi a primeira pessoa que veio à sua cabeça. Escutou enquanto o telefone chamava, rezando para que ninguém atendesse. Já se passava das duas da madrugada, e ele provavelmente estaria dormindo. Olhou apreensiva para o garoto ao seu lado, que esperava para ver o que acontecia. Ela imaginou Brad apanhando o celular de suas mãos, e falando com Ele. Provavelmente perguntaria se ela era sua namorada, e ele diria que não.
Esperou o telefone chamar mais uma vez, mas Ele não atendeu.
— Deve estar dormindo – ela disse, largando o celular em cima da mesa.
Depois disso, saiu para falar com algumas amigas que havia reconhecido. Não viu quando o celular começou a tocar, e Brad, que estava por perto, reconheceu o número como sendo o que ela havia acabado de discar, e rejeitou a ligação.

And they say
That a hero could save us
I'm not gonna stand here and wait
I'll hold on to the wings of the eagles
Watch as we all fly away
E dizem
Que um herói viria nos salvar
Não vou ficar aqui parado esperando
Me agarrarei nas asas de uma águia
Observe enquanto voaremos para longe

Ele observou quando os alunos saíam de dentro da escola, cada um pegando um rumo diferente. Viu quando ela passou pelo portão, acompanhada de algumas amigas que sorriam para a garota. Uma destas amigas o viu, e acenou com a cabeça para que ela se virasse e olhasse quem estava ali. Ela quase não acreditou. O que ele queria agora? Depois de todas as semanas sem aparecer, agora ele estava ali, e estava indo falar com ela.
— Acho melhor pararmos de enrolar, e termos logo uma conversa – ele disse.
— Tem algo que você queira me dizer? – ela fez uma falsa cara de surpresa, com um sorriso cínico.
— Estou indo embora.
De repente, o sorriso cínico se desmanchou na face da garota. Como assim, embora? Como ele poderia fazer isso com ela? Ele não tinha esse direito!
— Embora? – ela repetiu.
— Não é tão longe, estou indo para a capital. Vou fazer um estágio numa empresa de advocacia. Vai ser bom para mim, e é uma chance única.
— Mas... E a faculdade? E seus amigos?
Mas e EU? Ela pensou.
— É apenas por um ano. E posso vir aqui nas férias e nos feriados. Vou transferir meu curso para uma faculdade de lá.
— E você veio aqui só para isso? Para se despedir? – ela parecia não se segurar dentro do próprio corpo.
— Ei, moça, você sabe que eu gosto de você, mas enquanto eu não estiver por aqui, não dá para pensar em nada... Eu me afastei, por que sabia o quanto seria difícil pra ti lidar com a distância. Eu queria te preparar pra isso, e além do mais, não quero que as coisas entre nós aconteçam simplesmente por acontecer. E ao mesmo tempo, não dá pra namorar porque se não eu vou ficar louco querendo estar o tempo todo ao seu lado sem poder.
— Devia ter me dado a chance de decidir se queria lidar com essa distância ou não.
— O problema é que já fiz muitas pessoas sofrerem, e não quero isso pra você.
— Mas e o que eu sinto não conta? Me deixou sozinha todo esse tempo, e eu andei pensando em muitas coisas. Você sempre estava no meio delas. Não sei por que isso acontece, só sei que acontece! Fiquei pensando em tudo que aconteceu entre nós, e queria que tudo voltasse, mas agora parece impossível... Você está indo embora! E eu vou ficar sozinha de novo... Por mais que eu pense em você, eu não o tenho para mim...
— Isso também acontece comigo. Andei pensando nisso. Será que... Não há uma solução?
— Você quer uma solução? Agora a pouco estava terminando tudo comigo.
— Não estava terminando, estava apenas explicando a minha falta. Para falar a verdade, eu também não ia conseguir ficar sem você. Nada do que sinto mudou.
Ele aproximou-se ainda mais dela, e a embalou em seus braços. Queria senti-la e mostrar a ela que ainda poderia confiar nele.
— Acho que há uma solução sim, eu posso esperar por você – ela disse, após alguns segundos sentido o calor do corpo do garoto.
— Só te peço pra não desistir sem tentar. E se for fazer algo, faça por você, não se deixe levar.
— Há pessoas que vencem doenças, vencem barreiras sociais, e nós temos apenas a distância. Parece algo tão pequeno.
— É pequeno sim. É mínimo. Mas a gente não vai ter como se ver. Isso é muito cruel. Eu juro que queria dizer algo para te tranqüilizar, mas não encontro as palavras, nem eu estou tranqüilo.
— Moço, esse ano é muito importante para mim, pela primeira vez eu sei o que quero da minha vida, e você tem que ajudar nisso.
— E eu vou ajudar. Nada do que sinto mudou, e nem vai mudar tão fácil. Desculpa por ter te deixado sozinha, eu tenho andado realmente estranho esse dias, mas vou mudar isso. Só te peço pra não fazer nada que nos torne impossível.
— E eu peço que você se torne possível.
— Mas eu sou.
— Que seja para mim!
— Moça, eu te amo, tem paciência comigo. É só isso que eu te peço.
Ela demorou um pouco e depois, olhando nos olhos dele, ela disse:
— Eu vou te esperar.

And they're watching us
They're watching us
As we all fly away
E eles estão nos vendo
Eles estão nos vendo
Enquanto voamos para longe

sábado, 30 de maio de 2009

Venha para casa - Primeira parte

Hello world
Hope you’re listening
Forgive me if I’m young
For speaking out turn
Olá mundo
Espero que esteja escutando
Me perdoe se eu sou novo
Para falar de vez

Os pingos d’água caíam desordenados como prenúncio para uma longa noite de tempestade. Aquele sereno manso no meio da tarde tornava o clima parado, e a maioria das pessoas ficava dentro de casa, apenas sentindo o arrepio com cheiro de chuva por baixos das cobertas.
Ele ainda vestia seu pijama com uma gravura de um seriado famoso na televisão, quando uma visita lhe apareceu. Ele sabia, só podia ser ela. E pelo horário, havia fugido mais uma vez da escola para ir até sua casa. Quantas vezes já não havia dito para que ela não fizesse aquilo, pois poderia ser apanhada. Mas ela nem parecia lhe escutar. Como uma garoa mimada, que não gosta de receber ordens. Não estava interessada em ouvir lições de moral do namorado mais velho, e chegava a discutir por causa daquilo. Porém, ela sabia exatamente como convencê-lo a esquecer tudo e sempre terminavam entre carícias e afagos.
Ele tentava, mas não conseguia negar que gostasse daquele seu jeito. Sentia-se até meio especial todas as vezes em que ela fugia para vê-lo. Quando abriu a porta, logo viu o uniforme azul-escuro com detalhes brancos que ela vestia. Um pouco molhado, impregnara em seu corpo, marcando as curvas bem feitas. Os seios subiam e desciam dentro dele, revelando uma respiração ofegante. Trazia consigo aquele velho guarda-chuva preto, enorme, o mesmo que ela usava quando a viu pela primeira vez.
— Entra – ele disse, depois de um segundo observando a expressão apática no rosto da garota.
— Prefiro ficar aqui fora – ela disse num tom baixo, entre palavras miúdas.
— Mas está chovendo, você pode acabar pegando um resfriado – ele tentou fitá-la, mas ela desviava o olhar para o final da rua, em algum ponto distante e sem importância.
— Você sabe que nunca liguei para o resfriado. E sabe também o quanto venero a chuva.
— Mas ela sempre te deixa triste.
Aquilo, ele não entendia. Como se ela pedisse para ficar triste, e gostasse daquilo. E afinal, o que tinha na chuva para deixá-la daquela forma?
— Não estou triste. Estou apenas sentindo. Há coisas que não consigo explicar, e esta é uma delas.

There’s someone I’ve been missing
I think that they could be
The better half of me
Ali está alguém que eu tenho feito falta
Eu penso que poderiam ser
A metade melhor de mim

Ele não sabia, mas naquele momento ela lhe pedia um abraço. Aquele olhar em lugar nenhum, com certeza queria um afago, um consolo sequer. Mas ele não podia adivinhar. Já conseguira aprender a ler os olhos dela, suas expressões de raiva ou desgosto lhe eram facilmente reconhecidas, mas a falta deles ainda era um mistério. E o ponto distante no final da rua ainda parecia interessante para os olhos da garota.
Naquele momento, ele se sentia impotente. Uma espécie de medo lhe tomara conta, como se ao possuí-la, o simples fato de tocá-la fora lhe ferir de alguma forma. Não sabendo como agir, falava sobre assuntos que não importava a nenhum dos dois. E por mais que ela o escutasse gentilmente, ele mesmo não estava feliz com aquela situação. Não sabia como ajudá-la, nem se ela precisava realmente de ajuda.
Quando tinham chegado àquela situação? Desde quando falavam sobre assuntos banais em seus encontros, como se mal se conhecessem? Desde quando haviam se tornado estranhos?
— Estou indo embora – ela disse, despedindo-se.
Ele fechou a porta atrás de si. E por mais que ele soubesse que ela estava apenas indo para casa, sentiu como se aquela despedida fosse para sempre.

They’re in their place trying to make it right
But I’m tired of justifying
So I’ll say to you…
Estão em meu próprio lugar tentando fazer direito
Mas eu estou cansado da justificação
Então eu digo que você...

Ele podia lembrar com detalhes a forma como se conheceram, um ano atrás.
E mais uma vez, chovia.

Da janela do segundo andar da faculdade, ele observava enquanto as pessoas corriam, fugindo dos pingos d’água que começaram a cair de repente, de forma forte, que chegava a assustar. No momento seguinte, a rua se esvaziara. O vazio de uma manhã de chuva reinava mais uma vez, e ele sentiu uma ligeira ociosidade. Aquela chuva no meio do dia era sempre perturbadora. Mas para sua surpresa, ao olhar novamente para a rua deserta, viu uma figura andar calmamente entre as poças de água, segurando um enorme guarda-chuva preto. Pela leveza de seus passos, parecia não saber para onde ir. Ou simplesmente não ia a lugar nenhum, pois já havia chegado onde queria.
Mas naquele ponto não havia nada além das torrentes e das poças d’água. Afinal, a presença daquela garota ali, no meio da rua deserta, deixou-lhe intrigado.
“Quem era ela? E o que fazia ali?” Eram as perguntas que se formavam em sua cabeça. E no minuto seguinte, como se respondendo a ele, ela largou o guarda-chuva, que caiu no chão de repente. O barulho da queda fora abafado pela chuva. Porém, aquele guarda-chuva caído ali não foi o que lhe fez parar por alguns segundos. E sim, a visão do rosto da garota retorcido para cima, de olhos fechados, apenas sentindo os pingos de água que lhe caíam, lavando todas as impurezas de seu último ano de adolescência.
Ele não sabia explicar, mas aquilo lhe irrompeu uma incrível sensação dentro do peito que parecia querer pular para fora da camisa, fazendo-o mover as pernas e quando ele viu, estava correndo até as escadas. Desceu-as rapidamente, sem prestar atenção às outras pessoas que passavam. Um êxtase lhe dominava por ele estar cada vez mais perto da saída. Finalmente, chegou à rua e parou a corrida de supetão. O primeiro pingo que caiu em seu rosto pareceu nortear sua visão para um único ponto: exatamente onde a garota estava minutos antes.
Mas agora, apenas o guarda-chuva se encontrava ali.

Come home
Come home
Cause I’ve been waiting for you
Venha para casa
Venha para casa
Por que eu estou esperando por você

Ele sorriu pela lembrança. A história deles era muito maior que aquilo, mas simplesmente pensar naquele dia lhe trazia felicidade. E sentado ali, encostado à porta por onde ela nem chegara a entrar, ele sentiu a falta que lhe fazia o seu sorriso.

For so long
For so long
And right now there’s a war between the vanities
Durante tanto tempo
Durante tanto tempo
E agora há uma guerra entre a vaidade

Do lado de fora, uma lágrima misturou-se aos pingos de chuva que rolavam no rosto da garota. Era seu último ano de colegial, e logo estaria na faculdade. Aquele ano seria uma única etapa, a mais decisiva, que ela teria que ultrapassar sem deixar vestígios. Não havia perdão para o erro, e tudo se confundia em sua mente. Sentia-se pressionada e cheia de dúvidas.
E era exatamente a dúvida que a fazia hesitar nos momentos mais importantes. Por um momento, pensou em quantas vezes não havia deixado o medo lhe dominar, impedido-a de fazer suas escolhas.
Será que ao menos uma vez, não poderia ser diferente?
Ouviu passos rápidos seguindo na direção contrária. Surpreendeu-se ao ver que eram os seus próprios. Estava voltando, e daquela vez, nada importava. Nenhuma dúvida lhe faria tremer o coração, e ela saberia roubar o que precisava. Bateu violentamente contra a porta, como se sua vida dependesse daquilo. Do outro lado, um sorriso se formou no rosto do garoto. Levantou-se num impulso e abriu a porta. Por um segundo, eles apenas se olharam. A expressão de surpresa bem delineada no rosto de ambos. Foram os segundos mais demorados da vida da garota, que não voltaria atrás e roubaria seu abraço. Largou o guarda-chuva no chão, pois a chuva já não importava.
E ela o abraçou.

But all I see is you and me
The fight for you is all I’ve ever known
So come home
Mas tudo que eu vi é eu e você
Lutar por você é tudo que eu sempre soube
Então venha para casa

Um abraço. Pensou ele, ainda agarrado àquele corpo que parecia encaixar perfeitamente ao seu num contato firme, desesperado. Apenas um abraço.
Era incrível o que aquele gesto significava para eles: simplesmente tudo. Dizia perdão, confiança, certeza, e principalmente, dizia que eles se amavam.

I get lost in the beauty
Of everything I see
The world ain’t as half as bad
As they paint it to be
Eu estou perdido na beleza
De tudo que eu vejo
O mundo não é tão mau
Como o pintam para ser

Ele puxou-a ainda mais para dentro de casa, pois a chuva havia aumentado violentamente, e ele teve que fechar a porta. Sentaram-se no sofá e nada disseram. O mais interessante é que não havia o que dizer. Aquele silêncio mostrava o quanto estavam habituados um ao outro, e o quanto podiam ficar ali, calados, apenas acariciando-se, e seria a conversa mais sincera de tantos tempos.
— Não quero te ver triste – ele disse, quebrando o vazio.
Ela deu um sorriso contido, mas de forma agradável. Depois, falou:
— Estou feliz agora.

If all the sons
If all the daughters
Stopped to make it in
Well hopefully the hate subsides and the love can begin
Se todos os filhos
Se todas as filhas
Parassem para compreender isso
Bem esperançosos o ódio diminuísse e o amor poderia começar


Ele olhou para o rosto dela mais uma vez, depois afastou uma mecha de cabelo que descia pela face molhada e enxugou uma última lágrima que ainda pendia pesarosa. E então, aproximando-se devagar, beijou seus lábios. Há muito não se beijavam daquela forma apaixonada. Seus beijos haviam se tornado mera rotina. Mas naquele dia, o contato se intensificava cada vez mais, e eles podiam sentir o êxtase em seus corpos.
No momento seguinte, estavam grudados um ao outro. Um desejo forte lhes subia ao pensamento, e eles já não podiam pensar por si. Os beijos continuavam cada vez mais lascivos. A mão da garota começou a subir por baixo da blusa do garoto, levantando-a, e ele a retirou em seguida. Ela o admirou por alguns segundos, mas logo o contato recomeçou. Ansioso, ele avançou por cima dela e a deitou no sofá. Estavam cada vez mais entregues.
Há muito ele desejava aquele momento. Jamais haviam chegado àquele ponto, e ele sentia que aquela era a hora. Sabia da responsabilidade de ser o primeiro para a garota, mas aquilo não era empecilho. Pelo contrário, tinha certeza que ela era totalmente dele.
Totalmente minha. Ele repetiu, para não esquecer.
E sabia, ela jamais esqueceria.

It might start now
Well maybe I’m just dreaming out loud
Until then
Come home
Poder começar agora
Bem, talvez eu apenas esteja voando alto
Até lá
Venha para casa

quinta-feira, 12 de março de 2009

Falsa Felicidade

Eu o fitei por uma última vez, penetrante, tentando captar os resquícios de certeza dentro dos olhos estreitos, mas nada pude perceber.

Apenas, que o ser humano é incerto.

Não sabe pensar por si, e seus discursos são sempre cópias inerentes ao contraditório de outras mentes ainda mais perturbadas. Num certo ponto, num ano qualquer, alguém pensou diferente e foi taxado de louco. Anos depois, seus pensamentos eram lidos e passados para muitos, e embora você não saiba, mas em sua mente corre um pensamento de uma mente insana, mas que com o correr dos anos foi idealizado, difundido e concretizado.

Algo que não parecia ter sentido, vem preencher as cabeças do futuro, que lhe dá novos caminhos, que lhe aperfeiçoa e o torna ainda complexo em sua supra-realidade. Como não dizer então, que a sociedade em que vivemos não seja fruto de mentes insanas?
Afinal, que certeza ele poderia ter?

Era apenas um jovem tolo, que bebia Coca-Cola e falava estrangeirismos. Suas únicas leituras eram o cardápio de batidas do barzinho que freqüentava, e os poucos recados deixados na geladeira por sua mãe.

Levado pelos estigmas da sociedade, seus conhecimentos são idealizados pelos meios de comunicação, que distorcem a realidade e enchem as cabeças humanas de futilidades, apenas para vender ainda mais.

Não há tempo para pensar por si, a sociedade já decidiu por ele. E o capitalismo, cada vez mais explícito, atua em sua vida e o torna ignorante, porém, bem-sucedido.
Não perceberia, mas se tornaria uma cópia de seu pai, e apenas um cadáver: rico, e com falsa intelectualidade.

Entretanto, seria feliz.

Em sua ignorância, não poderia compreender porque, mas a satisfação de ter sido igual a todos seria a base para sua patética felicidade. Deixaria de lado seus pensamentos, ou mesmo os esqueceria durante a juventude e, assim, teria aquela felicidade clichê, a qual todos procuram, mas ninguém admite não senti-la.

Ele pensava assim. Qualquer sacrifício que fosse seria necessário para encaixá-lo na sociedade capitalista que lhe traria a tão esperada felicidade. Por isso não seguia seus impulsos, não corria atrás daquilo que realmente queria.

E, talvez por isso, tenha me deixado parada, perplexa diante de tamanha incerteza e tenha apenas seguido, mesmo que tivesse a cabeça cheia de dúvidas. Por Deus, se ao menos ele estivesse certo daquilo que fazia, talvez pudesse me convencer, ou a ele mesmo. Mas como já foi dito no começo, não havia sequer indícios de certeza em seus olhos.

Ele apenas seguia, dando-me as costas sem mesmo saber por quê.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

O divã da morte


Em certos dias remotos
Quando a claridade é apenas uma estrela
Os ouvidos escutam divãs desconhecidos
Na azáfama dos corações dessecados

A alma sobrepõe-se à selva de grades
Entre tantos corpos, perdidos entre paredes
Desolados pela faina diuturna
De um espaço na vida sem fim

Sensatas divagações, murmuradas
Por um alguém desconhecido
E em suas faces dragontinas
Apenas clemência lhe é composta

Tantos estranhos a lhe perturbar
Cerrar os ouvidos já não adianta
Não há como ignorar o eco perdurado
Da voz que chama teu nome

Entrega-te ao pequeno relento
Se ele te chama, corre, segura-o
Verás que lúgubre era teu ser antes dele
Sentirás a corda por teu pescoço

Depois disto, apenas o vazio da morte
Nada do que você construiu irá com você
Nenhum olhar de compaixão
Para aquele que lhes abandonou

A solidão de tua alma te crucificou
De que vale morrer pelos outros?
Se nenhum deles te estende a mão
Se nada sentiram quando tu os abandonaste

Mas se fores sincero,
De que valeste morrer por si?
O que terias tu, melhor que eles
Que dignificasse o próprio abandono

Olha para trás agora que tudo se foi
Pois à sua frente há apenas vazio
Arrepende-te,
Pois apenas os fracos não têm esta glória

terça-feira, 27 de janeiro de 2009


Aconteceu em meados de 1920.


Os últimos pingos de água ainda caíam sob terra, mas Max não esperaria mais tempo para sair de casa. Durante a chuva, estivera chateado por não poder sair para brincar com seus amigos, ou mesmo banhar na bica que era formada entre as curvas dos telhados, onde alguns garotos amontoavam-se numa pequena profusão de corpos encharcados.


Pelas frestas da janela, observava as outras crianças correrem pela rua quase deserta, e sujarem-se nas poças de água, que por causa do terreno declínio, alinhavam uma pequena correnteza, misturada ao barro que cobria parte do local. Uma bicicleta parou em frente á casa de Max. Seu pai, que era pescador, havia chegado de um dia inteiro de trabalho. A chuva lhe acompanhara durante todo o percurso para casa. As roupas molhadas davam-lhe um ar ainda mais enfastiado.


O garoto abriu rapidamente a porta para o pai, que entrou batendo os pés num pano que servia de tapete. Mas havia algo estranho no olhar de seu pai, percebera Max. Debaixo da blusa, enrolado em um saco plástico, o pescador retirou alguns jornais velhos que ele havia colhido enquanto trabalhava. Geralmente serviam para embalar os peixes, mas naquele dia o pai do garoto pediu a ele que escolhesse algum, pois ele lhe ensinaria a fazer barquinhos de papel. O garoto escolheu um que trazia como manchete, a foto de um grande navio da marinha.


Como tantas outras coisas, Max logo aprendera, apenas observando as mãos calejadas do pai que dobravam levemente o papel. Vários barquinhos foram feitos, e logo que a chuva cessou, o garoto correu porta a fora. Não podia perder nenhuma poça que fora formada, e a correnteza levava os barquinhos para bem longe. Mas Max não perdia de vista nenhum sequer. Controlava todos os seus barquinhos, e via-os como grandes navios de guerra. Apenas um dos barquinhos fugiu do controle de Max. O que havia sido feito por seu pai. Arrastou-se vários metros, enfrentando obstáculos e seguindo em frente. O garoto corria descalço atrás dele. Mas o barquinho já percorrera tantas curvas, e já estava tão longe, que Max não podia mais vê-lo.

E ninguém mais viu Max.

Anos haviam se passado, e era talvez 1934.

As cores mesclaram-se formando um pôr-do-sol. Aquele fim de dia, em que nada dera certo. A única coisa que lhe restava, era sentir o breve arrepio que tomava conta do corpo sempre que anoitecia. Nunca fora de pensar muito, costumava agir por impulso, mas naquela situação ele já não era ele mesmo. Não fazia as mesmas coisas, não se alimentava normalmente, sua rotina havia desmoronado anos atrás.


Desde o dia em que seu filho desaparecera, ele não tinha feito tantas coisas além de olhar o pôr-do-sol que entrava pela janela e refletia na porta por onde algum dia seu primogênito voltaria a entrar. O som de uma sirene invadia-lhe os pensamentos. Entre vários ruídos, a voz aparentemente condoída de um policial, dizia-lhe as palavras que ele mais temia.

“Sinto muito Sr. Müller, procuramos em todos os lugares.”

Cada pedaço de lembrança desta pequena frase cortava-lhe ainda mais o coração.

“Ele queria ser marinheiro.”

O pescador lembrou-se das próprias palavras. Havia repetido-as freneticamente durante meses, sempre com a mesma cena na cabeça. A de vários barquinhos afogados na lama barrenta, sem ninguém a vigiá-los.
O ano era 1940.
Numa vila de pescadores da Inglaterra, reuniam-se vários barcos para evacuar os soldados ingleses que se encontravam em Dunquerque, ao norte da França. O Sr. Müller, navegou junto aos outros em humildes traineiras já muito gastas. O percurso era grande para as pequenas embarcações e ainda corriam o risco de serem surpreendidos por marinheiros nazistas. Ainda assim, não desistiriam. Vários soldados amontoaram-se na traineira do Sr. Müller, que não esperou pelos outros, e rumou à Inglaterra o mais rápido que pôde. Não gostava de estar longe de casa. Cada vez que saía dela, tinha a sensação de que seu filho voltaria e ele não estaria lá para recebê-lo.
Navegavam tranquilamente por algum tempo, mas não viram quem se aproximava. Um navio da marinha nazista. O Sr. Müller não poderia morrer agora, não sem antes ver por uma última vez seu filho que ele tinha certeza que voltaria. Dentro do grande navio, o comandante foi avisado sobre a embarcação, que provavelmente transportava soldados ingleses para alguma vila de pescadores. Os marinheiros precisavam de suas ordens para atacar. O comandante visualizou o pequeno barquinho de papel desgastado pelo tempo, para só então, dar as ordens.
“Nenhuma traineira será atacada.”
O marinheiro, sem entender a decisão, retrucou:
"Mas comandante, o que devo dizer aos marinheiros?”
Diga que são as ordens do comandante Max Müller.”

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Estudante de Direito, Escritora nos momentos de melancolia, melhor amiga nos momentos de felicidade e flamenguista sofredora.