A vida, segundo Kierkegaard

'A vida só pode ser compreendida se olharmos para trás, mas deve ser vivida para frente...'
Diários, Soren Kierkegaard.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Reflexo


Verdades que são ditas ao contrário
Palavras esquecidas no tempo

Mentiras descobertas

Amores acabados


Passo horas, e horas passam

Eu na frente do espelho

Olho meu reflexo, e o reflexo me olha

Qual dos dois se sente melhor?


Está tudo confuso, eu digo

A culpa é sua, ele diz
Eu o encaro, e ele me encara de volta

Que espécie de mentira é esta que te consome?


Baixo a cabeça para chorar

E sinto seu olhar inquisidor em cima de mim

Apenas ele sabe a verdade

E faz questão de expor isto

Sempre que estamos frente à frente


Tentei não me iludir, eu digo

Seja responsável pelo seu fracasso, ele diz

Eu o encaro, e ele me encara de volta

Que sensação é esta, afinal?


Se tento odiá-lo, fracasso

Pois sinto que ele está certo

E a mentira tem vida curta

E meu reflexo sabe disso


Por que não troca de lugar,

E tenta fazer melhor, eu grito
Por que sabe que eu acabaria de vez com isso, ele diz

Eu o encaro, e ele me encara de volta


Não é isso que queremos,
Não o alívio imediato, mas a solução

Poder olhar e dizer que não o quero
Ignorar as juras, e entregar-se ao realento

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Quem és tu, que invade meus sonhos?


Tantas noites em claro, fixando o olhar na imensidão do teto. Já decorara cada ponto do forro mal acabado. Podia ouvir o som dos ponteiros do relógio despertador passeando pelo círculo, cada vez mais devagar. O ventilador rodava manso, quase parando. As cobertas estavam quentes, e ele começava a suar. Primeiro pelo pescoço, depois nas curvas das pernas. Mas o calor não era o responsável pela falta de sono. Ele poderia simplesmente aumentar a velocidade do vento. Ele não queria dormir. Caso dormisse, sabia que voltaria a sonhar. Sempre o mesmo sonho. Os mesmos olhos grandiosos lhe perscrutando. Orbes negros, como a escuridão que vinha densa pela janela. Invadia-lhe o quarto, a mente, os sonhos. Todo seu ser era consumido por ela. Mas ao olhar, a janela encontrava-se fechada. Poderia ligar o computador, aproveitar para terminar alguns trabalhos e adiantar outros. Mas estivera em uso até o momento. O processador já esquentara o suficiente por uma noite. E seus olhos estavam cansados demais para a claridade da tela. As pestanas se encontram num vacilo. Ele teria que ser mais forte. Por Deus, ele não se entregaria tão facilmente! Sentiu o chão frio embaixo de seus pés. Enquanto andava alguns passos até a cozinha, lembrou-se de quantas noites não passava daquela mesma forma. Sequer lembrava do fim de uma noite de sono completo. Todas marcadas pela presença dos grandes olhos negros. Eles estavam tão longe, pensava, mas sempre lhe invadiam os sonhos.
O que mais lhe arrepiava, era não saber de quem se tratava. Afinal, de quem eram aqueles orbes? Tantas mulheres passaram por sua vida, e de qual delas eles eram?
Quem és tu, que invade meus sonhos?

sábado, 22 de novembro de 2008

Maktub


Na última curva, da última montanha, você vai encontrar alguém que sempre esteve te esperando, mesmo que jamais estivesse estado ali. Num certo ponto da estrada, alguém o parou e lhe disse que você o encontraria quando chegasse a hora. Ele anseia por sua chegada, e vem seguindo os sinais para saber quando será o Grande Encontro. Na ponta da língua, ele já tem todo um discurso preparado, e algumas histórias para contar. Porém, quando estiverem cara a cara, ele te dirá uma única palavra a qual você desconhece o significado.
Por alguns dias, você vai andar decepcionado com a conversa de vocês. Por vários momentos, irá pensar na quantidade de conhecimento que ambos não partilharam. Contudo, com o decorrer dos meses, você entenderá a significação daquele momento.
E neste dia, por acaso, vocês vão novamente se encontrar, e falarão sobre a vida, sobre pessoas importantes, sobre as descobertas de cada um, e tudo que não falaram no contato anterior.
“Está escrito.” Você dirá, revelando o significado da palavra que ele lhe dissera.
“Finamente você entendeu.” Ele dirá.
“Como você sabe?”
“Por isto nos encontramos por acaso. Não adianta passar a vida planejando algo que você não sabe quando vai acontecer, se tudo está escrito e podemos simplesmente fazer com que tudo corra no seu percurso natural.”
Ele sempre soube, você irá pensar.

Nunca há ninguém


Queria ainda poder ver
Todas as estrelas que você apagou

Quando foi embora dos meus sonhos


Por isso meus olhos se fecham

Para não ver a chuva que cai

Abafando os ruídos, que serão intensos

De suas memórias que ficaram

Ainda posso escutar
seus passos na varanda
Eles se aproximam sorrateiramente

Mas não vou olhar para trás

Por que não ha ninguém


Nunca há ninguém


Apenas escuto sua voz,

Sussurrando em meu ouvido

Fazendo-me arrepiar os pêlos da nuca

Mas não vou olhar para trás
Por que não ha ninguém


Nunca há ninguém


Vou continuar me culpando por seus erros

Até que sua mentira tome conta de mim

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Palavras soltas no ar


Palavras soltas no ar


Queria poder dizer que está tudo bem
Que as palavras não são necessárias
Mas a noite cai e a solidão domina
Meu ser se inunda do vazio

Não tenho seguidores, nem amantes,
Alguém que possa me escutar

Ao meu lado, apenas o vácuo do absurdo
E alguns fanta
smas perdidos

Nasci pra viver na escuridão, tão somente

Os libertadores fugiram de minha alma

A mente perturba-se com tantos vultos

Prepotentes, absortos do desconhecido


São os fantasmas da solidão

Eles estão aqui, posso senti-los

É o que
restou para ser visto
Todos se vão, mas eles ficam


Estendidos, com
o formas geométricas
Uns se alongam, outros se enrolam

Perscrutam pelo caminho
Mas não preenchem meu vazio


Sinto suas formas rodopiando ao meu redor

E eles tornam tudo confuso, vertiginoso

Tiram-me as lembranças,

E já não penso em tantas coisas


Tento,
e até encontro um esboço
Recordo das canções, dos arrepios

Mas o amor está perdido

Sumiu entre o vazio das palavras não ditas


Levou embora minhas juras secretas,
E as cores daquele dia perfeito

É como se o amor estivesse aqui

E eu não pud
esse vê-lo

São os fantasmas da solidão

Eles estão aqui, posso senti-los
Escondem de mim

O pequeno feixe de luz que irradia


Não posso vê-lo,
Mas tenho esperança de que ele ainda brilha

Num ponto distante, ele prenuncia minha chegada

Mesmo que eu nunca encontre o caminho


Onde está você, pequeno feixe de luz?

Minha bússola foi quebrada pelos vultos

Faltam-me os ponteiros a seguir

Uma direção certa para te encontrar


Por que você não vem até mim?

Liberta-me dos fantasmas perdidos

Traz as cores de um dia de sol
Faz o vento soprar manso entre as curvas


Eu não sei onde estou,

Por isso não posso te dizer onde me encontrar

Mas posso está atrás, ou bem a sua frente

Por que não olha em volta?


Se encontrar uma pessoa perdida num vazio
Aquela sou eu, simplesmente

E não espere que eu te olhe de volta

Pois vejo tudo, mas nã
o vejo nada
Apenas palavras soltas no a
r


segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Versos da palavra em prosa


Andei procurando palavras, nas pequenas porções de riscos. Num papel sofrido, com uma tinta ressecada. Elas iam surgindo, e me perguntando:
- O que mais você tem a dizer?


Os riscos montam e desmontam

(O que ainda me falta dizer?)

Sobem e descem, e me afrontam

(O que ainda quero dizer?)


Circulam, desenrolam, mas falta um espaço. Falta a rima. Falta a melodia. Falta o compasso.
A música não se mostra. O som não chega ao coração.E de que valeria tanta melodia, se tu não escutarias minha canção?
Preciso da rima perfeita, das melhores metáforas e mais belas palavras. Para preencher tua alma com meus versos.

domingo, 9 de novembro de 2008

Pequenas coisas da vida


Aos poucos, vou percebendo que faz parte do meu “eu” dar ênfase as pequenas coisas da vida. Como o cheiro da chuva no telhado, o modo como mamãe prepara o café, o barulho das chinelas de papai anunciando sua chegada, a corrida dos pingos de chuva no vidro do carro, o som do pôr-do-sol apagando as luzes do reflexo na água, a dança das árvores no contato com o vento, as diferentes formas como os olhos piscam dependendo do momento, o mesclar das vozes em meio à multidão, a branquidão dos dentes formando um sorriso, o balançar dos cabelos e o toque atrás da orelha, a voluptuosidade do arrepio nervoso, a canção do alvorecer fundindo-se às cores da manhã, o cheiro empoeirado das páginas de um livro velho, o reflexo dos seus olhos de encontro ao meu, a leveza de como a água do lago passa entre meus dedos, a temperatura debaixo das cobertas quando acordamos, o arrastar dos pés descalços em contato com o chão frio, o som do café caindo do bule até a xícara, o conforto de um abraço apertado, uma voz conhecido ao telefone, o êxtase nos corpos durante aquela dança de batida rápida, a respiração pesada da pessoa que dorme ao seu lado na cama, aquela solidão que sentimos quando estamos em meio a tantas pessoas, mas só conseguimos pensar em uma única que está distante!

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Um significado para existência
Modo de ser próprio do homem. [Cf., filosofias existenciais.]

Afinal, quem ditas as regras? Quem define o que está certo e o que está errado, ou o que é verdadeiro e falso, ou mesmo, quem dita os padrões de beleza?
Embora um fato não seja concreto, será que ele não pode ser julgado verdadeiro quando prevalecer na opinião da vontade geral? Não na vontade de todos, que é a somatória de interesses privados, egoístas. Mas na vontade geral, que é o interesse comum, coletivo, onde não há “propriedade”. Como não há propriedade, todos serão iguais, ou seja, terão os mesmos interesses. Terão uma verdade.
Mesmo não havendo provas de certo fato, ele pode, então, ser considerado verdadeiro quando prevalecer na mente dos indivíduos de certo grupo que tenha interesses afins. Para que algo exista, e seja uma verdade, basta somente que alguém acredite naquilo. Muitas pessoas vivem e provam a inexistência de fatos e forças nas quais eles não tem crença. No mundo delas, em suas mentes, entre suas verdades, aquilo nunca terá espaço para existir.
Porém, há alguém que acredita. E na simples crença – embora de forma abstrata – aquilo será uma existência, uma verdade. De acordo com os conhecimentos, e entre outros significados, o verdadeiro é aquilo mais convincente, o melhor. Desde que as pessoas acreditem, e tenha convicção daquele fato, ele será verídico e poderemos dizer que ele Existe.
Não é engraçado que o falso, sendo então o mais convincente, possa ser chamado de verdadeiro?
Não posso ter uma certeza absoluta se sequer acredito no certo e no errado.
E será que não há algo a mais? A mais do que aquilo que podemos ver, crer, ouvir, sentir, sonhar, pensar... Algo que vá além de simples palavras, simples pensamentos, simples teorias.
Uma verdade.

(Teoria baseada nos estudos de Jean-Jacques Rousseau)

About Me

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Estudante de Direito, Escritora nos momentos de melancolia, melhor amiga nos momentos de felicidade e flamenguista sofredora.