A vida, segundo Kierkegaard

'A vida só pode ser compreendida se olharmos para trás, mas deve ser vivida para frente...'
Diários, Soren Kierkegaard.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Apenas Sonhe - trecho

Lisie é uma garota de dezessete anos que vive algo fora do normal: descobriu que há outra pessoa dentro dela, mais segura, mais espotânea e sem medos, ou seja, tudo o que ela nunca conseguiu ser. Agora Sally, como se intitula a outra garota, resolveu tomar conta do corpo de Lisie, deixando sua vida de cabeça para baixo.
Veja um pequeno trecho dessa história.

 


“Então você descobre,
Que dentro de você pode existir outro alguém,
Talvez ao contrário, ou talvez tão parecido,
E conhecê-lo significa se conhecer”





Então, em uma noite qualquer, sentada no balcão de um bar qualquer, alguém se virou para mim e fez a seguinte pergunta:

— Quem é você?
Poderia ter dito meu nome, o nome de meus pais e suas posses. Talvez tivesse sido uma resposta menos confusa para o curioso ao meu lado. Mas preferi ser mais complexa, e repeti para ele alguns pensamentos que rondavam minha cabeça.

— Eu sou mais uma peça desse jogo que chamamos de vida. E tenha cuidado comigo, pois eu sei como jogar. Eu tenho gosto pelo profano, pelo perverso, pelo insano. Dou valor àquilo que não posso ter, e ao que não posso ser. Eu tenho uma mente, e os pensamentos que me saem dela, passam direto para veias que me impulsionam a uma ação. Não sei distinguir o certo e o errado. Ao mesmo tempo em que tenho uma opinião sobre algo, é como se um outro ser dentro de mim comandasse e fizesse aquilo que eu não teria coragem de fazer. Essa outra pessoa dentro de mim vai fazer com que eu me olhe no espelho e já não veja a mesma pessoa de anos atrás. E realmente, não sou a mesma. Este jogo está aí para nos corromper. Para nos dar o gosto de nosso próprio remédio. Para ver até onde agüentamos. E para ver onde vamos parar.
— E é aqui que o jogo termina, em um bar qualquer? - ele perguntou, para minha surpresa. Eu sequer esperava que ele dissesse algo. Achava que como todos, não daria importância ao que eu havia falado e que só continuasse ali me escutando por que já tivesse bebido bastante rum.

— Pelo contrário, é aqui que começa. Chamam-me de Lisie, mas pode me chamar de Sally.
Só então olhei para o companheiro ao meu lado, com um sorriso faceiro no canto da boca, mas que foi se dissipando quando vi de quem se tratava.
Naquele momento, quis entender o que Liam Carlyn fazia ali. Não que fosse um lugar difícil de encontrá-lo, já que se tratava de um bar. E onde melhor que um bar para encontrar um bêbado? Mas por que ele estava ao meu lado, falando comigo, isso eu não entendia. E devo acrescentar, não queria entender. Só que algo me prendeu àquela figura. Deve ter sido o que ele me falou quando me viu prestes a deixá-lo:

— Hoje não estou bêbado, então é melhor procurar outra desculpa para não falar comigo.
Adoro essas pessoas com boas propostas. Descobri-me cada vez mais persuadida pelos olhos azuis celeste. Mentiria se dissesse que não tive vontade de ouvi-lo, mas meu celular começou a vibrar no bolso da calça jeans. Apanhei o aparelho e olhei para Liam, que me olhava de um jeito inconformado, depois entendeu:

— Aí está sua desculpa.


Ao ouvir aquelas palavras, seguida de sua expressão para mim desconhecida até o momento, senti uma vontade que me fez fazer algo inesperado. Arrisquei:


— Pode me dar um motivo para não atender ao telefone?
Creio que com esta pergunta, tenha dado margem para que ele se excedesse. O que ele aproveitou.


— Hoje não bebi para impressionar uma garota. Pode não ser um motivo, mas é um começo.
Admito que para quem fora pego de surpresa, até que ele deu uma boa resposta. Guardei o telefone no bolso e o encarei. Não esperava uma grande conversa, mas qualquer coisa que viesse de um bêbado me impressionaria. Não me perguntem por que eu dei a ele aquela chance, pois também não sei. Mas talvez eu acredite mesmo nas pessoas.

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Estudante de Direito, Escritora nos momentos de melancolia, melhor amiga nos momentos de felicidade e flamenguista sofredora.