A vida, segundo Kierkegaard

'A vida só pode ser compreendida se olharmos para trás, mas deve ser vivida para frente...'
Diários, Soren Kierkegaard.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Meu amigo Teddy



A nova casa tinha cheiro de móveis velhos. Todas as portas rangiam, arrancando-me calafrios. Papai disse que consertaria o barulho depois. Lá fora havia um grande jardim, com um balanço que nunca parava, até parecia ter vida própria. O vento passava, e fazia a corrente arrastar-se poderosa pelo aço. Quando enfim entrei em casa, pude ver bem à minha frente, a grande escadaria que levava aos cômodos do andar de cima. Embora velha, parecia bem feita e com adornos do século passado. Subi por ela até chegar a um corredor lateral, onde minhas narinas impregnaram-se de um odor muito forte de poeira. O que só deixava aquela casa ainda mais misteriosa. Foi então que encontrei a porta de onde seria meu quarto. Tentei abrir, mas estava emperrada. Ia dar meia-volta e avisar meu Pai, mas quando dei por mim, a porta havia se aberto sozinha. Meio receoso, entrei calmamente no cômodo. Logo na primeira visão que tive, surpreendi-me. Tudo naquele quarto era exatamente igual ao meu antigo. Os móveis, as cores, as meias espalhadas pelo chão, o abajur meio caído e até a mancha na parede escondida pelo criado-mudo. Era tudo tão incrivelmente igual, que chegava a ser petrificante. Agachei-me em baixo da cama. Assim como as outras coisas, meu ursinho Teddy estava lá. Ainda lembro o dia em que o joguei lá em baixo. Havia acabado de perder um dente, tive de arrancá-lo à força. Teddy contou-me sobre a fada dos dentes e me convenceu a colocar o meu embaixo do travesseiro. Esperei a tal fada durante a noite toda, mas quem veio foi mamãe. Aquilo me deixou decepcionado e ao mesmo tempo, transtornado. Com raiva de Teddy, joguei-o embaixo da cama. Quando me disseram que iríamos nos mudar, pensei em finalmente tirá-lo dali. Mas não o fiz. Por vezes tive vontade de voltar a brincar com ele, mas meu orgulho não deixava. Ele ficou na antiga casa e eu fui embora, para outra cidade, onde achei que o esqueceria e nunca mais o veria. Pensei nele durante toda a viagem. Cheguei nesta nova casa e encontrei meu quarto, tudo exatamente igual. Olhei embaixo da cama, e lá estava Teddy. Criei coragem e tirei-o de lá. Abracei-o com vontade. Ele estava velho e empoeirado. A cor marrom encontrava-se desbotada. Mas era o meu ursinho. Ele estava ali, e eu finalmente voltaria a brincar com ele. Foi então que papai ligou a luz, e em meu quarto tudo se iluminou. Neste momento, percebi que aquele não era Teddy, e nada naquele quarto comprava-se ao meu antigo. Por Brena Laielen

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Estudante de Direito, Escritora nos momentos de melancolia, melhor amiga nos momentos de felicidade e flamenguista sofredora.